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(re)invenções

Uma mudança de significado

PEDRO ROCHA

 

Muitos locais em São Paulo são pontos de comércio para atrair o público. Além disso, muitos destes ambientes passam a ter outra identidade transformada pelos comerciantes que o frequentam. O vão do MASP, a feirinha na Benedito Calixto e as feiras de “madrugada” são exemplos de como locais habitados pela população ganham outro significado com o comércio no espaço urbano. A feirinha de antiguidades no vão do MASP é o que mais sofreu mudanças. Com o fechamento da Avenida Paulista, o público que frequentava o espaço mudou e os comerciantes falaram sobre isso e de alguns planos para se adaptarem a essa situação. Já na Benedito, os vendedores se mostraram muito mais acomodados com a situação que a pracinha se tornou, porque já existe um público e uma proposta mais definida e organizada. Algo que torna o ambiente mais agradável que o anterior, relação citada também pelos comerciantes.

A Avenida Paulista, muito frequentada pelas pessoas, possui o vão do MASP, que nos dias de semana é frequentado pelo público como ponto de lazer e calmaria. Aos domingos isso muda. Com uma feira de antiguidades instalada no local, o público é atraído pelo comércio que o vão se torna. O lazer ainda prevalece, mas a calmaria nem tanto. Cris e Rubens, 10 anos vendendo antiguidades no local, trazem o significado que a maior parte dos vendedores tem ao venderem artigos de antiguidade nesse ambiente. “Infelizmente a venda de antiguidades não combina com a zona que este ambiente tornou com o fechamento da paulista. Queremos nos mudar. O público que comparece ao local mudou. Os grandes apreciadores foram trocados pela juventude que não se interessam tanto por esse tipo de comércio, pois jamais pagariam 500 reais em um objeto”.

Marilu e Uilson, 5 anos no local, também compartilham da mesma opinião que o casal anterior. Porém, com um sorriso no rosto, trataram a venda de antiguidades como um desejo antigo deles. “Vendemos coisas antigas porque gostamos. Independente do público ter mudado, estamos nos adaptando a essa nova realidade diminuindo os preços de alguns produtos ou colocando outros a venda, como bijuterias, por exemplo”. Grande parte dos vendedores afirmaram que o público alvo mudou e que o ambiente não ficou apropriado para vendas de antiguidades após o fechamento da paulista. Por isso, alguns comerciantes já estão adaptando suas vendas para adequar ao novo público, que diferentemente do passado, não são apreciadores ou especialistas em relíquias antigas.

Outro local citado anteriormente é a pracinha na Benedito Calixto. Com o mesmo significado que o vão do MASP durante a semana, aos sábados ela se torna um ambiente de muito artesanato e cultura. Com obras de arte, música, literatura e até praça de alimentação, a feirinha na Benedito atrai um público variado. “Nosso objetivo é promover cultura em um espaço que todos podem frequentar. Acho que se encaixa nessa praça, pois praça é um local popular e queremos a presença de todos”, disse Cláudio Fernandes, 44 anos e comerciante na feira.  Ao ser perguntado sobre a relação do comércio da praça com o comércio do vão do MASP, ele completou com uma aparência meio indecisa sobre o assunto. “São ambientes diferentes. Já tive a oportunidade de conhecer o comércio de lá, mas a arte da pracinha traz mais a identificação do local com os moradores da região, diferentemente do vão que está dentro de uma avenida que é sempre frequentada e por conta disso fica mais bagunçada”. Cláudio, assim como outros comerciantes que estão vendendo na pracinha se mostraram muito mais motivados com as vendas comparados aos vendedores do vão do MASP.

Diferentemente das outras duas formas de mudança de significado de um local, a feirinha de “madrugada” é uma ideia de comerciantes para ser um “Atacadão”. Produtos são vendidos por um menor preço. Localizada no Brás, pessoas da região tem maior facilidade em ir para o local. Mesmo com o comércio durante o dia, as feiras de madrugada não deixam de mudar o espírito do ambiente.

Todas essas práticas transformam o espaço em outro significado. O perfil dos personagens, no caso os comerciantes, são semelhantes, mas não são iguais, pois o público que querem atingir é diferente. Mesmo tendo o objetivo de atrair o público em geral, a classe financeira de quem quer comprar antiguidades não é igual à classe que deseja artesanato ou outros objetos culturais, por exemplo.

Apoiar a interação social e a vida urbana é uma arte

 

FREDERICO NUNES

 

Quem já passeou pelas ruas do centro de São Paulo, com certeza já se deparou com um “Parklet”. Para quem não está familiarizado com o nome, os Parklets são espaços públicos com estruturas móveis formadas por mesas, bancos e alguns até decorados com plantas, e funcionam como uma extensão da calçada. Muitos desses espaços foram implantados em frente a bares e restaurantes, ou então, em calçadas com grande circulação de pessoas.

A ideia veio com o intuito de apoiar a vida urbana na cidade e promover a interação social. Deu muito certo! Os parklets se tornaram o “queridinho” dos paulistanos. Nos bares, o espaço mais procurado pelos clientes são esses (apesar de não serem propriedade do bar).

Mas não é só isso. Mesmo os espaços públicos que não tem um bar ou restaurante por perto como um “atrativo”, são muito frequentados pelos paulistanos como por exemplo Emerson Brito, 28 anos, que está trabalhando na obra de um prédio no bairro de Santa Cecilia, próximo ao Largo do Arouche, e que por sorte, conta com um parklet em frente ao local da obra, falou um pouco sobre o assunto. “Ah, eu acho ótimo. Não se vê muitos lugares para sentar por aí, só em praças, então isso é muito bom, além de confortável e seguro.”. O operário ainda acrescenta.” Eu particularmente sempre quando passo por um na rua, se tenho um tempinho, sento para relaxar, comer alguma coisa. Agora mesmo, a gente tá (sic) esperando o caminhão chegar com o concreto, e podemos aproveitar esse espaço aqui” conclui ele dando as últimas mordidas na sua maçã.

É curioso observar nos parklets, o quanto o ambiente consegue agregar diferentes tribos em um mesmo espaço.  Desde idosos que param simplesmente para dar um descansada, até jovens que promovem reuniões entre amigos para botar o papo em dia, para ler um livro, ou então até mesmo casais que param ali para namorar um pouco. No espaço localizado na Rua Padre João Manuel, no Jardins, por exemplo, já é conhecido pelos comerciantes locais como fumódromo, tamanho o fluxo de fumantes que se reúnem por ali para tomar um café e fumar um “cigarrinho”. As mesas inclusive contam com um cinzeiro fixado no centro.

O parklet da Padre João Manuel, também atrai um grande número de “frequentadores ciclistas”. O fato do local conter um bicicletário, atrai um grande público que chega transportando-se através de uma “bike”. Fato esse aliás, que é uma das premissas desses espaços, o incentivo a utilização de transportes não-motorizados.

Mas, como tudo tem o outro lado da moeda, a extensão da calçada desenvolvida pelo governo, também gera revolta em alguns que circulam pelas ruas de São Paulo de outra forma, com os transportes motorizados, principalmente os carros. Rogério Dalaqua, 41 anos por exemplo, é totalmente contra a implantação desse tipo de espaço ocupando uma faixa da pista.” É muito mal posicionado. Já não basta a cidade ter trânsito em tudo quanto é lugar, e eles ainda ocupam um pedaço da rua com essas mesas? Aí não dá!” esbravejou Rogério. E ele ainda acrescenta com uma reclamação ainda mais dura em relação aos parklets”. E o pior de tudo. Isso ocupa no mínimo a vaga de estacionamento de uns três carros. Já é quase impossível achar uma vaga em horário de pico, imagina com isso. A gente é quase obrigado a pagar esses estacionamentos caros”, conclui ele, visivelmente irritado.

Verdade seja dita, é impossível conseguir agradar gregos e troianos, sempre haverá discórdia de alguém, critica de outro, e também elogios. A questão é tentar utilizar o espaço público da melhor maneira possível, e nesse contexto, cabe a reflexão: será que é mais justo beneficiar a vaga de dois ou três carros no máximo, e que em um dia todo giraria em torno de 40 a 60 carros, ou será que vale mais a pena utilizar esse mesmo espaço que caberia poucos carros para beneficiar centenas de pessoas que utilizam dessa minipraça diariamente? Vale lembrar que os parklets podem ser solicitados por qualquer pessoa, e desde que seja aprovado pela prefeitura, será implantado.

Mudança de ares

Uma nova perspectiva sobre a revitalização da Barra Funda

LUIS MENEZES

 

Não é algo incomum ver, em uma cidade, uma obra sendo realizada em um perímetro demarcado. Porém, na região da barra funda, localizada na zona norte, não se encontra somente uma, mas como várias construções de edifícios tanto residenciais como empresariais em larga escala, transformando tanto como a paisagem, mas como também possibilitando um novo padrão de vida.

A mudança na região tem sido causada principalmente por meio de incentivos da operação urbana água branca, uma proposta que, apesar de ter surgido em 1995, foi aprovada pela câmara municipal e sancionada pelo prefeito, Fernando Haddad, em 2013. Esta incentiva a revitalização da Barra Funda e parte de Água Branca, que aproveita a oferta de transporte público, no qual se destaca o metrô e trens, como uma característica potencial para o desenvolvimento da região. Para Edimilson da Costa, 33, cartorário e morador no bairro há cerca de 20 anos, a transformação no bairro tem sido positiva. “Este espaço estava praticamente morto” ele se refere à região que estava sem utilidade.

Edimilson explica que essa urbanização da região tem sido benéfica para os moradores das proximidades, assim como também houve mudanças significantes como na limpeza, lazer e principalmente oportunidades com a chegada de novas empresas. Porém, existem ainda dificuldades, especialmente na área de segurança. “A região em geral é boa para morar. Porém na avenida marquês ainda ocorre incidentes de roubos e furtos. ”

Apesar da região passar por reformas, esta nunca deixou de ter alguma função significante ao longo da história. No final do século 19, estação ferroviária de Barra Funda, serviu como ponto de depósito e armazenamento para produtos transportados, entre o porto e o interior, da companhia Estrada de Ferro Sorocabana. Ao passar das décadas, as fábricas foram fechando a estação de trem passou por mudanças, como ser estabelecido como ponto para as linhas da CPTM e a área começou a perder seu caráter produtivo, criando uma imagem de abandono completo.

 Para Marta Ciniscalqui, 34, administradora e moradora na região há 30 anos, a transformação no bairro mudou a forma em como era retratado, ressignificando sua imagem. “Não tenho nada a reclamar, só agradecer”, ela destaca sobre as mudanças. A administradora diz que a revitalização trouxe uma identidade nova, a qual fez que as pessoas reconhecessem barra funda como um bairro diferente do anterior. “Antes, quando eu passava o meu endereço, as pessoas se surpreendiam ao saber aonde eu moro, pois era um local escondido e não acreditavam que aqui tivesse casas e sim, somente fábricas. Agora não mais, pois você tem pontos de referência aqui como o Jardim das Perdizes e a Unip. ”

Um Olimpo reinventado

ANDRÉ FONSECA

 

De longe a mais bonita de todas as avenidas que São Paulo tem. A paulista se tornou um cartão postal da cidade. Está localizada no limite entre as Zona Sul , Central e Oeste. Uma das regiões mais altas, pode-se numa comparação com a Grécia Antiga  dizer que o Olimpo Nacional. Lá o indivíduo se depara com imensos prédios e inúmeros carros.

Durante a semana, em meio a correria do cotidiano de cada pessoa é possível observar muita coisa nessa região. Durante todo o dia há uma maré de pessoas indo e vindo. Não importa se é de carro ou se é a pé. Se está indo almoçar, ou se  vai trabalhar, ou até mesmo só dar uma passada para aproveitar as oportunidades como por exemplo apreciar um belo casal de bailarinos que dançam ao som de uma Salsa trajando roupas de academia em frente a um estabelecimento que vende comida na hora do almoço.

Quem quiser pode também  simplesmente ir aos parques após ou antes do horário de trabalho. Na frente do Trianon  ocorrem feiras, se estiver precisando lá é uma boa pedida para descansar e comprar algo para comer ou que esteja realmente precisando. Coisa que pode ser feita em algum shopping da região.  No Cidade são Paulo  há uma banda de rock tocando próximo a entrada e no Center 3 muitos artesãos vendem suas obras de arte na calçada.

No lado oposto ao prédio gigante que segundo o colega de profissão Matheus Pichonelli lembra um ralador de queijo, que até outro tempo abrigou um pato  de tamanhos monumentais, tem um espaço de almoço com 15 barracas  e umas 3 mesas. Lá parei para descansar tomar um refresco junto a outras pessoas e tentar-me por no lugar de cada uma delas, com suas rotinas.

Enquanto falo os carros vem e vão. Os ciclistas e os skatistas na sua faixa podem se dar ao luxo nos dias de hj de fazer o que pessoas nos carros fazem só que de uma maneira mais saudável. Isso graças as políticas publicas de um governo mais socialista  que viza montar um espaço urbano mais acessível a todos e que possa dar uma melhor qualidade de vida aos habitantes da cidade. Desse modo teve-se inicio outro programa do governo da Cidade  que fecha para os pedestres usarem aos domingos 26 avenidas de São Paulo e a Paulista é uma delas.

Para  uma jovem estudante  de história da  Usp  que  estava lá no domingo como uma Militante, quando  abre-se a avenida transferimos as pessoas de lugares onde teríamos uma maior individualidade para um  ambiente aberto e mais democrático. Falando em democracia nesse ambiente que já teve várias passiatas tanto de esquerda como de direita vem acontecendo uma pequena revolução por parte de uma Moça de 28 anos chamada Fernanda Sugimoto.

Ela que se acostumou a por uma rede entre duas palmeiras na frente do Banco Itaú próximo a Augusta para ler em tranquilidade, sofreu outro dia uma repressão por parte de policiais. Os homens de farda pediram que ela se retirasse de lá, pois ela estaria influenciando outras pessoas a montarem redes no local. E segundo ela toda vez é assim a cada domingo um guarda diferente pede para que ela se retire e ela insisti em continuar no mesmo local com os mesmos livros de romance.

Romances esses que poderiam ser historias de pessoas que por lá passam nos seus domingos ensolarados ou chuvosos. Casais de todos os gêneros de todas as etnias  e credos  estão nos domingos no Olimpo da cidade. Poderia eu fazer uma comparação grotesca  das festas com dança que lá ocorrem com  os Bacanais da mitologia Grega  ambos regados a muita bebida alcóolica e amantes passando um pouco do limite.

Pude ver um casal que se beijava incessantemente como se não passasse muito tempo junto durante a semana. Vi também  casais procurando ajudar-se. Um  ensinou o outro a andar de skate. Para que pudessem na semana seguinte andar juntos na ciclovia com o mesmo veículo. Demonstraram assim que querem crescer como um casal unido. Crescer palavra realmente digna dessa avenida que surgiu com vários casarões e que agora abriga construções de última geração.

Algumas das construções antigas estão ou já foram revitalizadas. A arquitetura é algo que lá está muito presente seja ela barroca ou gótica, ou qualquer outra. Falando em arte e estilo de arte o que não falta lá são Museus com diferentes obras de arte. Como no caso do Instituto Itaú Cultural, da casa das Rosas e do MASP (Museu de Arte de São Paulo). Esse último  com muitas cartas na manga para prender o público.

O MASP consegue de uma forma tão singela usar de seu desenho arquitetônico para fazer com que as pessoas o aproveitem de diferentes maneiras. Uma delas e  que qualquer um pode ficar em seu vão porque ele é livre para tudo e todos. Outro ponto interessante é a Feira de Antiguidades que tem no próprio vão do  Museu  onde várias pessoas vão para comprar ou só admirar as coisas antigas. O Vão serve de protesto para ambos os lados após o termino da feira.

O ponto de encontro de todas as pessoas para protestarem contra o governo vigente é  aquele buraco entre o  concretão de cima e os paralelepípedos de baixo que quase sempre após uma manifestação aparecem pixados com dizeres de revolta contra a sociedade ou o governo. Mas não é só de revoltas que o lugar vive  há também manifestações culturais como o de um bando de bolivianos residentes em São Paulo, que para não perderem  sua identidade mostram suas danças em frente ao museu e por toda a avenida, ao menos uma vez ao ano.

Já os meninos de um grupo de percussão se apresentam todo os meses no Olimpo para todos verem e desfrutarem um pouco da arte milenar que é tirar um som de qualquer coisa  com qualquer instrumento , no caso, o instrumento é o chão e o batuque  consegue-se de modo bater os pés no asfalto , ou melhor, num tablado.  Faz parte do show também usar latas de lixo ou galão de água para o batuque, sem contar que eles dançam muito bem. E é bem digno desse novo significado que a paulista busca ter.

Mas caro leitor  não para por aqui a quantidade de coisas boas que esse lugar oferece. Como pude  não falar de comida até agora  ou pelo menos deixar a comida de lado no domingão da avenida? Que erro esse meu. Para concertá-lo, imagine-se andando, correndo pulando cantando,dançando e não comendo nada .

Qualquer ser da face da Terra passaria mal o que é seu caso e para isso   o que foi feito na Paulista? Foi instalado em seu inicio Food Trucks, temos também a feirinha em frente o Trianon que vende pastel, o complexo de 16 barracas em frente o Prédio da Fiesp e é claro vendedores de pipoca e  as promoções dos restaurantes da região  que no domingo promovem seus novos petiscos no meio da rua.

 

Portanto quando se diz que maior avenida da cidade de São Paulo se reinventou e deu um novo significado, deve-se olhar para toda a infraestrutura já presente  e é claro torcer para que o dia seja o mais ensolarado possível para que se possa desfrutar de tudo que é oferecido no local.

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